segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Meu amigo Pedro

Eram quase 2 horas da manhã e Pedro não conseguia dormir, algumas noites acordados alguns leves cochilos durante o dia com certeza sua sanidade estava perturbada. A vida não estava sendo muito justa com ele ultimamente as boas noticias eram raras e quando aconteciam não eram suficientemente boas para anima-lo.
Seu telefone estava mudo e a sensação que ele tinha era que ninguém se importava e talvez não se importavam mesmo, ele passava uma boa parte da madrugada olhando para o celular esperando algo acontecer ou criando coragem em mandar mensagem para alguém mas o medo de não ser respondido o medo da rejeição mesmo que fosse para uma conversa amistosa o impedia de tentar.
Seu coração acelerado o deixava inquieto, não sabia se era fome ou uma crise de ansiedade que o consumia, o refluxo constante de seu estômago o impedia de beber, ele sentia raiva, medo, culpa, uma tristeza que perfurava sua alma, sabia que deveria ser forte mas não conseguia sua única vontade era de acabar com sua existência miserável.
Pedro sonhava em encontrar uma mala cheia de dinheiro ou uma lâmpada mágica que resolveria seus problemas, pagaria pela sua falta de beleza, compraria a felicidade mas apesar de sonhar sabia que isso não aconteceria e que os dias seriam longos e dolorosos. Sonhava com afeto, com carinho verdadeiro e não apenas falsas e vazias juras de amor, porém quando ele parava e pensava já havia muito tempo que nem as falsas aconteciam, ele já não se lembrava mais como era se sentir amado, desejado, querido. Ele sabia que não ia acontecer, ele sabia que não seria amado ou desejado, ele sabia que não havia nada de interessante, ele sabia que ele era comum demais pra despertar algo em alguém.
Sua existência estava fadada ao fracasso e eu assistia todo esse sofrimento de camarote, acompanhava cada pensamento, cada palavra que ele trocava com sua mente, sabia de todos os motivos e nomes de suas dores, cada espacinho de magoa que ele sentia eu sabia o porque e tinha vontade de falar por ele, mas Pedro não tinha coragem de dizer, covarde não queria magoar ainda mais as pessoas preferindo se ferir por dentro, Pedro não entendia o pq da vida não querer lhe dar amor, Pedro chorava por dentro mas não transbordava as lágrimas não saiam.
Ele nunca entendeu todas as traições que sofreu mas perdoou mesmo que externamente todas, ele nunca entendeu o pq sempre foi a 2ª, 3ª, 4ª opção mas sempre atendeu prontamente qualquer chamado por se contentar com qualquer migalha de carinho que poderia vir, mesmo que essa migalha se transformasse em um doloroso flagelo.
Eu tentava dizer pra ele que ele poderia ser feliz mas particularmente cá entre nós, eu também não acreditava nisso, só o falava pra tentar fazer ele se sentir melhor e bom, sempre falhei.
Eu sei que ele feriu muita gente e ele sabe também e isso também tortura ele.
Se passaram 5 minutos desde que ele percebeu que não vai dormir essa noite novamente, ele é consumido por um calor e obrigado a tirar o casaco, encarava fixamente um pedaço de corda velha que tem em seu armário ele sabe que não tem coragem pra fazer nada mas mais que um pouco de afeto acabar com tudo é seu maior desejo e esse desejo devora ele mas ele não tem coragem, pensa no trastorno que seria ser achado enforcado, o desespero que seus pais ficariam e principalmente toda tristeza que traria pra sua irmã, os amigos ficariam tristes alguns dias mas logo se esqueceriam , mas sua irmã ele sabe que marcaria a vida dela pra sempre e tem medo de fazer ela infeliz.
Um silêncio ensurdecedor toma conta de sua cabeça, ela fica vazia alguns poucos segundos que parecem uma eternidade até que se escuta um estrondo em sua mente e uma nova avalanche de sentimentos e pensamentos o consomem. Ele se sente mal de novo, sente tontura, lembra das vezes que foi trocado, lembra das vezes que foi esquecido, lembra das vezes que foi deixado de lado, lembra que é impossível de ser amado, lembra da quantidade de mensagens que ele enviou e foi ignorado, lembra de como se sente sozinho, se lembra de como está sozinho, se lembra do pq quer morrer, se lembra que realmente não vale a pena viver.
Pedro finge pras pessoas.
E quem sou eu? Eu bem... eu sou a covardia , a falta de coragem, a dor, a tristeza, a magoa, a solidão, o enjoo constante, a falta de fome, a tremedeira, eu sou quem o sabota, quem o mata, quem o derrota, eu sou a verdade por trás dos olhos de Pedro.

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