No auge dos seus 57 anos Fábio bebia demais. Encontrava na bebida uma suposta única amiga, solteiro e solitário pensava que ninguém se importava com ele. Em um dos seus porres cotidianos meio a um delírio de desmaio se viu sentado conversando com ele mesmo.
- Acho que você precisa parar de beber - dizia seu outro eu.
- Você pararia de fugir se fosse um procurado sentenciado de morte?
- Não sei, fugir e se entregar o destino ia acabar sendo o mesmo, ninguém consegue fugir pra sempre.
- Pois é pra mim não faz mais diferença fugir ou me entregar, mas a bebida torna a estrada menos demorada.
Ao acordar do porre, Fábio se viu no meio de seu próprio velório, o como imagina não havia ninguém ali, apenas seu corpo no caixão e agora sua alma olhando aquela cena que simplificava sua vida, apenas um grande e vazio salão com um corpo no meio. Quando ele escuta alguém entrar. Uma mulher que aparentava uns 27 anos. Ela chorava, e ele não entendia o porque e ficou a observar, quando ela pensou em voz alta.
- Nunca tive a chance de conversar com você, mas te observava todos os dias no bar, bebendo sozinho, você não vai se lembrar mas muitas vezes te ajudei a voltar pra casa quando você estava desmaiado, mas dessa vez não consegui chegar a tempo e nunca tive coragem de lhe falar enquanto ainda estava sóbrio.
Fábio ficou olhando sem nada entender, quem era aquela mulher e porque ele o tinha ajudado sem ele ao menos desconfiar. E a mulher continuo:
- Meu pai sempre me falou de você, e de seu coração belo, e das diversas maneiras que estava sempre disposta a ajudar e da mesma maneira que por isso afastou o mundo de você pra poder viver a sua vida e não mais a dos outros e agora você está morto, completamente sozinho.
Então ele percebeu, que não foi o mundo que tirou algo dele e sim ele que se tirou do mundo mas estava cego demais achando que ninguém nunca faria por ele o que ele fez pelos outros, sua vida não tinha sido em vão e sua morte havia sido sentida. Missão comprida.